quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A revolução dos netbooks



A revolução dos netbooks

Camila Fusco - EXAME

Os segredos dos pequenos

Os netbooks também se inspiram nos laptops educacionais, como o XO, do famoso — mas fracassado — projeto do laptop de 100 dólares. Apesar do propósito educacional, cerca de 70% das vendas desses equipamentos no mundo devem ser destinadas a consumidores finais, desde aqueles que estão comprando o primeiro computador até os que buscam uma segunda máquina. No Brasil, a expectativa é que o consumidor desse produto seja predominantemente os usuários mais maduros, que já têm computadores e procuram uma máquina alternativa para transportar com mais facilidade. A Positivo Informática aposta nas classes A e B e já chegou a adaptar seus modelos para isso. Na segunda quinzena de setembro, a empresa apresentou outros dois modelos, com teclado e tela mais espaçosos — de 8,9 e 10 polegadas — e preço de até 1 500 reais. “Entendemos que os consumidores dispostos a comprar esse produto já são usuários mais avançados e estão dispostos a pagar mais por conforto”, diz Rotenberg. Já a HP iniciou as vendas de seus netbooks buscando o mercado comprador das empresas. Segundo Cláudio Carneiro, gerente de notebooks corporativos, a intenção da companhia ao longo dos próximos meses é levar os modelos ao varejo.

A ascensão dos netbooks indica outra tendência importante no mundo dos computadores. Os PCs portáteis estão rapidamente tomando espaço dos computadores de mesa. Os grandes volumes ainda estão concentrados nos laptops tradicionais, é claro. Na Europa, as vendas do segmento cresceram 60% no segundo trimestre do ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Até mesmo nos Estados Unidos, que têm um mercado maduro, as vendas de laptops cresceram quase 18%, enquanto as de desktops caíram 4%. Mas é nos países que chegaram mais tarde à era digital de massa, como o Brasil, que a ascensão da mobilidade é surpreendente. Muitos consumidores brasileiros nem sequer terão um PC de mesa em casa: seu primeiro computador pessoal já será um laptop. O mercado brasileiro para notebooks está aquecido como nunca. Segundo pesquisa da consultoria IT Data, 71% dos entrevistados que pretendem comprar um computador nos próximos seis meses vão optar por notebooks. Além disso, já no próximo ano, as vendas de computadores portáteis ultrapassarão as de desktops: serão vendidas 8,5 milhões de unidades, ante 7 milhões de PCs de mesa.

Avanço da mobilidade

Existe bastante otimismo também em relação ao sucesso dos netbooks no Brasil, embora os números por aqui ainda sejam modestos. A IT Data calcula que os pequenos computadores respondam por cerca de 2,2% do mercado de portáteis. Com a queda nos preços, os netbooks podem se tornar a melhor porta de entrada para quem não tem condições de comprar um computador mais potente. A mesma expectativa existe em outros países emergentes, como China e Índia, cuja enorme população só agora começa a desfrutar do mundo digital. Mas existe um obstáculo de marketing a vencer, de acordo com Ivair Rodrigues, diretor-geral da IT Data. “Atraídos pelos preços, muitos consumidores que nunca tiveram um computador acabam escolhendo os ultraportáteis e ficam frustrados.” Para Rodrigues, é preciso haver um esforço de marketing para deixar claro que o netbook tem certas limitações — não é o equipamento ideal para quem quer consumir músicas e vídeos, por exemplo. Para ganhar uma fatia significativa das vendas previstas, os fabricantes também precisarão ser criativos para se diferenciar dos demais. “Uma forma de impulsionar as vendas será por meio de parcerias com operadoras de telefonia para embutir placas de acesso à internet e aproveitar seus canais de venda”, diz Enderle. No Brasil, a Asus tem acordo com a TIM para vender os modelos com modem 3G embutido, o que permite que o PC use a rede de telefonia celular para conectar-se à internet. A Positivo está em negociações similares com operadoras móveis. Esse tipo de associação desafia as operadoras fixas e as TVs pagas, tradicionais vendedores de banda larga. O impacto do netbook na bilionária indústria da tecnologia, ao que tudo indica, será muito maior do que sugere seu diminuto tamanho.