Aparelhos eletrônicos, como computadores e celulares, entulham os depósitos. Mas só agora as empresas começam a se preocupar com reciclagem
PAULA PROTAZIO
CELULAR VELHO Aparelho: os fabricantes não se responsabilizam pelo descarte dos telefones no Brasil Bateria: Nokia, Gradiente, Siemens e Motorola têm urnas em todas as lojas das operadoras e oficinas autorizadas para o descarte das baterias |
A chegada da era da informação prometia um mundo mais limpo, livre de toneladas de papel e materiais desnecessários. Em lugar de equipamentos cheios de graxa e tinta, como máquinas de escrever ou mimeógrafos, as pessoas passaram a usar computadores cada vez menores. Os filmes fotográficos, que necessitam de substâncias químicas para ser revelados, vão sendo substituídos por versões digitais. Mas, ao contrário do que se imaginava, as lixeiras do mundo continuam crescendo. É um novo lixo digital, tão ou mais tóxico que as peças e engrenagens descartadas pelas máquinas das décadas passadas.
Um simples chip eletrônico, menor que a unha de um mindinho, exige 72 gramas de substâncias químicas e 32 litros de água para ser produzido. ''O condado de Santa Clara, na Califórnia, o berço da indústria de semicondutores, contém mais zonas de lixo tóxico que qualquer outra região dos Estados Unidos'', explica Radhika Sarin, ativista da organização ambiental Earthworks. O governo americano estima que três quartos de todos os micros que já foram vendidos no país estejam jogados em porões, esperando por um destino final. Os que vão para o lixo terminam em aterros sanitários ou incineradores. Cerca de 70% dos metais pesados dos aterros vêm de lixo eletrônico. A incineração despeja na atmosfera substâncias tóxicas e cancerígenas, como as dioxinas. Para se livrar delas, o Primeiro Mundo envia seus computadores velhos para desmanche na Índia, na China e no Paquistão.
A maior parte dos computadores usados dos países desenvolvidos vai para desmanches na China, na Índia e no Paquistão |
Isaumir Nascimento/ÉPOCA | ||
COMPUTADOR VELHO Usuário doméstico: o Museu do Computador, em São Paulo, aceita computadores velhos para doação. Tel. (11) 5521-3655 Empresas: usuários corporativos podem doar os computadores aos Centros de Recondicionamento de Computadores, do governo federal. E-mail: projeto.ci@planejamento.gov.br Qualquer um: a empresa Planac, de São Paulo, compra os equipamentos velhos. Tel. (11) 2106-2300 |
''As pessoas vêem o lixo de forma equivocada, pois são materiais recicláveis que devem ser olhados com mais atenção'', explica o economista Sabetai Calderoni, da Universidade de São Paulo. Especialistas avaliam que 94% dos componentes dos computadores podem ser reciclados. A Itautec já descobriu isso. No ano passado, ela faturou R$ 195 mil com a venda de material usado, reaproveitado dos micros que estavam obsoletos nos escritórios da empresa. ''Poucas empresas se conscientizaram da reciclagem. O que antes era resíduo passa a ser matéria-prima rentável'', comenta João Carlos Redondo, gerente de Administração Patrimonial da Itautec. Quanto mais empresas fizerem o mesmo no Brasil, maior o mercado para firmas especializadas no serviço. Enquanto isso, as placas eletrônicas da Itautec têm de ser enviadas a uma empresa de reciclagem em Cingapura.
Uma das poucas firmas brasileiras que reaproveitam os computadores usados em larga escala é a Planac, que compra micros obsoletos dos clientes corporativos da IBM. Nos últimos cinco anos a Planac já reciclou 20 mil aparelhos. Os reusados são vendidos a partir de R$ 699. ''Além de colaborarmos com o meio ambiente, ajudamos pessoas que não teriam condições de comprar um computador novo'', explica Fernando Januzzi, diretor da empresa.
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